9 de mai. de 2020

Amor próprio e seus buracos

Todo mundo, em algum momento e de alguma forma já sofreu com rejeição. Certo? Me senti rejeitada desde que me conheço por gente. E ok, agora pensando sobre isso e a relação com fidelidade. 
A rejeição cria buraquinhos no ego que dificultam o amor próprio pleno. Inicialmente, isso era muito mais óbvio na sociedade pros homens, já que são criados pra ser os mais viris e mais fortes e melhores que outros -o macho alfa. Enquanto a mulher deveria apenas servir. 
O tempo passou e a busca por igualdade permitiu que as mulheres também se vissem capazes de alimentar seu amor próprio (embora ainda se lute muito por isso, e aquém dos que ainda pensam assim hoje e guardam buraquinhos abertos por precisarem se sentir “mais homens”).
 No momento em que tanto homem quando mulher puderam cuidar de seus egos e escolher parceiros, isso se transformou numa guerra de ego infinita pra tapar buraquinhos e se achar o tal amor próprio. 
O tal do amor líquido surgiu.
Explico: A gente precisa SIM se por em primeiro lugar. Mas pra quem tem buraquinhos de rejeição abertos e que só são satisfeitos ao se sentirem desejados ou capazes de seduzir (pq não se identifica o motivo, apenas se luta cegamente), não importa o quão perfeito e o quanto amor a pessoa que está do lado dê a ele/ela. Isso não preenche suficientemente. E quem começa a ter o ego esburacado por pessoas que não valorizam o melhor que se faz, acabam aceitando que essa é a forma de se amar, tapar seus buracos sem se importar com o que o outro pense, pois ninguém se importou com seus sentimentos não é?
 É aí que aceitar que fidelidade não existe se transformou numa verdade social. Por que? Porque rejeição dói, porque tapar isso se torna prioridade. Isso desenvolve, por exemplo, as atitudes de acreditar ser certo uma traição se isso significar não perder “uma grande oportunidade”, mesmo que isso custe uma relação de anos ou uma pessoa que não vai fazer isso de volta. Ninguém quer ser rejeitado, mas ninguém quer sair da zona de conforto, então mesmo estando infeliz em uma relação ou feliz, o ego pede que testem outras pessoas e se sintam capazes de se sentir desejados e tapam seus buraquinhos com conquistas baratas, custe o que custe.
 “Eu em primeiro lugar” TÁ CERTO. Mas o que significa pra cada um? Qual o peso?  E esse é o ciclo que vivemos, com mil opções pra tapar buracos de rejeição, com a normalização de que fidelidade não existe pq traição é normalizada. 
Porque  muitas vezes, ser perdoado ou perdoada por uma traição é um baita bálsamo pro ego de quem traiu. E quando alguém descobre isso, descobre que pode se sentir capaz de testar e seduzir sem perder a zona de conforto, é praticamente um contrato de infidelidade assinado por quem quem perdoou. 
Nada é tão tapa buracos que saber que você pode fazer o que bem entende pelo próprio ego que alguém te ama tanto vai sempre te aceitar de volta. E cabe ao homem ou a mulher aceitar? Ou acreditar que a pessoa vai mudar se estiveres ali? Que o amor próprio da pessoa justifica os SEUS buraquinhos? 
Opinião de quem achou, por muito tempo, que se podia salvar pessoas: a pessoa só vai “ser salva” o dia que entender que vive numa busca vazia e resolver tratar os Próprios buraquinhos. É possível se por em primeiro lugar valorizando quem nos faz bem. É possível se amar a ponto de não estragar uma relação que faz bem. É possível se amar sem precisar achar que isso é sinônimo de conquistas aleatórias. 
Aprendi que me amar mesmo é não aceitar isso, que me amar é saber que por mais rejeição que eu possa passar, não me resolve machucar outras pessoas. Me amar é entender que não posso salvar a todos e que as vezes o único conselho que posso dar é em formato de cartão de visitas de um psicólogo. Quantos de nós estamos tratando buraquinhos criados por pessoas que não foram corajosas pra reconhecer e tratar os delas? Até quando?

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