26 de nov. de 2019

Fazia tempo que Joana queria andar de bicicleta novamente. A última vez havia sido tão terrível que não encontrava nenhum motivo para tentar de novo. Ela caíra um tombo tão feio que o velocípede quebrou-se de forma aparentemente irreparável. Apesar do trauma, ela juntou todos os pedaços, segurou a dor e as marcas na pele e foi para casa remontar aquele amontoado de alumínio e borracha.

Levou meses, não foi nada fácil. Mas ela se esforçou tanto que conseguiu reconstruir a bicicleta e aproveitou pra deixa-la ainda mais bonita que outrora. Colocou uma cestinha com flores, pintou de uma cor bonita e deixou no canto de casa. Dentro do quarto. Lá ela podia observar aquela obra linda que era só dela, do acordar até a hora de dormir. Dava um orgulho tão grande acordar e ver o que ela havia sido capaz de fazer, o quanto ela tinha forte pra concluir o objetivo. 

"Mas andar? 
"E se eu cair de novo? "
"Eu acho que não sou capaz de fazer tudo novamente... "

Pois Joana andou. E foi incrível. Nos primeiros minutos, o frio na barriga, a vontade de desistir antes que algo errado pudesse dar errado. "E se eu cair?". E a cada questionamento ela sentia o vento gostoso que acariciava o rosto, o sol quentinho que fazia aquele parecer o melhor momento que lembrara, o cheiro das flores na cestinha faziam parecer especial.

"Perfeito"

Passou a primeira quadra.
Passou a segunda.
Era encantador o vento no rosto e a sensação de que poderia ir tão longe que imaginava que podia conquistar o mundo.
Mas ela se distraiu.
Ela não deveria ter feito isso.
Foi tudo tão rápido, mas ela sabia que ia cair quando a bicicleta começou a bambear, seus braços seguraram com força tentando encontrar um ponto pra ajustar a direção que combinasse com o desalinho das rodas e tudo aconteceu tão rápido que ela agia antes mesmo de pensar qual era o ponto certo do guidão.
E quando ela se deu conta do que estava acontecendo, veio a dor da queda que a deixou muda e sem respiração por alguns segundos.

O primeiro pensamento que conseguiu racionalizar foi um "de novo não, eu não acredito"

Lá estava ela de novo. Com a bicicleta torta, com raiva da queda, com raiva de si mesma por ter se permitido chegar de novo naquela situação. "Vou ter que começar tudo de novo".

Ela se levantou, bateu na roupa para tirar a poeira, e viu a situação da queda de cima. Doeu. Doeu ter caído dtão rápido de uma sensação tão boa. Doeu a decepção da queda.

Foi então que olhou pra bicicleta e percebeu que os ajustes que fizera deixaram a bicicleta mais forte. Ela nem entortara tanto. Alguns riscos, um pouco torto, mas o trabalho que teria era bem menor que o da primeira vez. E isso foi deixando-a mais aliviada e confiante de que conseguiria resolver os danos causados. Juntou tudo, foi pra casa.

Ela não ia deixar de andar de bicicleta só porque um buracado a derrubou. Havia muita estrada pela frente, havia muita paisagem desconhecida e de repente se enchei de esperanças e viu o quanto era capaz de arrumar quantas vezes fosse necessário. Percebeu que a queda era imprevisível, mas fazia parte do caminho.

Ela não ia desistir nunca mais do que ela sabia que fazia sentido pra ela, não importava o quanto doesse, valia a pena o risco pela certeza do que fazia o coração bater mais forte.