16 de dez. de 2013

Mudança de Rumo


Às vezes é preciso mudar o rumo. Nem toda escolha é acertada e é preciso voltar uma casa e até ficar uma rodada sem jogar. Não há de temer as mudanças, mar sem vento não faz o veleiro navegar e ficar parado dependendo de correnteza é tão inseguro... Muito mais fácil chegar às pedras assim do que sabendo para onde ir.

Mesmo com GPS ligado e caminho traçado há os momentos em que mudamos de rumo por um sopro de vento não esperado, mas precisamos manter a calma e perceber que se isso acontece é preciso recalcular a rota e conhecer outros caminhos.

Precisamos mudar de círculos, pular de quadrado, mudar de ramo, seguir outros cheiros, trocar de companhias, deixar de admirar quem não for realmente digno, deixar de buscar o que não for realmente importante, deixar de se importar com quem não se importa, deixar de se doer por quem tem prazer em machucar.

É preciso ser forte, levantar a cabeça e reavaliar o percurso, o foco, o objetivo e seguir com poucas bagagens, somente as que importarem – ou melhor, que se importarem.

VL

2 de out. de 2013

Eu quero alguém...



Eu quero alguém que seja parceiro, companheiro, e que saiba dar amor.
Quero alguém com quem acampar num lugar bonito, alguém que me leve pra serra no inverno para comer fondue e me leve pra praia pra dormirmos na rede.
Quero alguém que tope indiadas e programas de casal em casa. Que veja filmes embaixo das cobertas e que me leve pra sair de noite.
Alguém que queira ficar momentos só comigo e que me leve pra festas e churrascos com amigos. Que me acompanhe e ria comigo e que não se importe se eu vou dançar e beber, pois vai fazer o mesmo e ambos saberemos que podemos confiar que nada de ruim poderia acontecer.
Alguém que se importe comigo e me mande mensagem só pra dizer que está com saudade, alguém que me ligue à noite para dizer “dorme bem”, mas não fique triste se eu precisar dormir logo.
Alguém que toque violão enquanto eu estudo ou que estude comigo. Que dê força aos meus sonhos e queira minha força para sonhar.
Alguém que me busque na aula e me leve pra casa quando eu estiver cansada, mas me leve pra jantar quando a noite estiver bonita.
Quero alguém que me espere com a janta pronta nos dias cansativos, que cozinhe comigo e que tenha prazer em provar o que eu cozinhar.
Quero alguém em quem eu possa confiar e nem precise pensar em querer senha de alguma coisa e que confie em mim sem precisar saber com quem eu tenho conversado, pois sabe que jamais eu faria algo para estragar tudo.
Quero alguém que se encaixe nos meus sonhos e que tenha um lugar reservado para mim nos seus mais loucos devaneios e anseios.
Que queira me dar à mão e caminhar comigo lado a lado.
Não quero roupas estranhas e cavalo branco, apenas um caráter íntegro, honesto e sincero, que não haja mentiras e desconfianças, mas que se houver alguma briga me espere no portão da minha casa com cara de “deixa de ser boba e me dê um abraço” e que se eu continuar brava me abrace e peça desculpas sinceras e brinque até que eu ria e esqueça porque havia brigado.

Enquanto esse alguém não chega ficarei aqui, guardando todo o amor e carinho do mundo, com fé de que existe alguém assim procurando alguém igual a mim.

28 de mai. de 2013

Olhos de Lua


Num país de pessoas com olhos sempre foscos e corações frios existia uma garota diferente. Seus olhos eram intrigantes e pareciam falar mais do que qualquer palavra que ela pudesse proferir com a boca. Ninguém compreendia o porquê de ela ser diferente, mas sabiam que mais alguma coisa nela não era comum.
Ela falava coisas estranhas como esperança, confiança e amor, coisas que todos desconheciam e, por isso, desacreditavam. A chamavam de bruxa, de estranha, tinham preconceito e achavam que ela não pertencia àquele lugar. Ela, que percebia todas as diferenças também se sentia deslocada e sozinha em meio a tanta frieza.
Um dia, quando menos esperava, se deparou com um visitante. Notou na mesma hora que seus olhos também não eram foscos. Ele parecia trazer consigo uma energia boa, contraria a dos demais, e principalmente, não olhou para ela com estranheza.
Até hoje há quem não acredite no encontro deles. Todos os que estavam na volta do casal ficaram espantados quando, ao cruzarem os olhares, quase cegaram o resto das pessoas.
Os olhos de ambos brilharam tanto que pareciam luas cheias em noite bonita. O sorriso deles se abriu largo e mutuamente, como se houvessem ensaiado uma peça.
Ninguém entendia como e porquê daquela cena tão estranha aos olhos foscos, mas uma coisa era unânime: era a cena mais linda já vista por alguém.
Desde aquele dia, quem ali estava passou a observar que os olhos ficaram mais brilhantes, que os corações aqueceram e que aquilo não era ruim, e sim a melhor sensação que alguém podia sentir na vida: a certeza de que a vida pode ser bonita, de que existe amor, e que quando ele acontece os olhos brilham e os sorrisos se abrem e ninguém, jamais, consegue apagar essa luz tanto quanto não é possível apagar a luz da lua.

21 de mar. de 2013

Lugar algum


Tenho em mim uma força quase animal de querer uma vida que não é minha, mas é muito minha. Como se já tivesse sido, talvez em outra vida. Sem ela me sinto perdida num mundo que não é meu, no qual não me encaixo. Não tenho eixo, apenas disfarces pra sobreviver sem saber o que estou fazendo aqui. Por que aqui? Por que assim? Tenho saudades do que não vivi, lembranças nítidas do que não existe, planos com quem nem conheço. Parece que não tenho vínculos, chego sempre tarde. Todos os acentos já estão ocupados, todas as vidas lotadas e a minha perdida em outro mundo, outra época, em outras vidas. Vejo como se eu estivesse dividida em diversas partes, pessoas e vidas, mas nunca inteira; nunca completa. Sinto uma angustia terrível por nunca encontrar o caminho que leva a minha verdade, a mim mesma. Fico imersa num mar escuro e frio, tão solitário. Tenho muita força, mas ela de nada adianta. Sem um rumo tanto faz se estou sendo fraca. Mas continuo, sempre continuo, caio, levanto, procuro, procuro e procuro. Quem sabe um dia meu quebra-cabeça fique completo, talvez não. Mas sempre há o lado de lá, o outro plano para me dar esperança de que em algum lugar eu exista, mas por hoje não é aqui e não é agora.


VL

22 de jan. de 2013

Carne Viva


A dor de vomitar verdades num rompante é imensa. 
É como se tivesse tirado um peso de todo seu corpo. Mas não qualquer peso. Tiraram sua pele, sua carne.
Você fica em carne viva e latejando, sentindo a ardência das verdades ditas, das magoas criadas e das mentiras proferidas a você como um tapa.
Você sabia que aquilo era mentira, você sabia que aquelas culpas não eram suas, você sabia que não deveria estar ali. 
Então você arranca isso de você e devolve para quem te deu e junto vai metade do seu corpo e da sua paz.
Talvez ninguém mereça verdades tão tuas, tão nuas, mas você estava sufocando e não havia mais o que fazer. Você já tinha pintado elas de outras cores, escondido em outros cômodos, embrulhado-as em papeis bonitos, mas elas sempre estiveram ali, fazendo questão de te lembrar coisas ruins.
Agora tudo foi dito. E você, sensível, precisando de um carinho que te cure a alma e regenere sua fé. Fé de que é possível se doar, sentir, sonhar sem perder parte de si.