Tenho em mim uma
força quase animal de querer uma vida que não é minha, mas é muito minha. Como
se já tivesse sido, talvez em outra vida. Sem ela me sinto perdida num mundo
que não é meu, no qual não me encaixo. Não tenho eixo, apenas disfarces pra
sobreviver sem saber o que estou fazendo aqui. Por que aqui? Por que assim? Tenho saudades do que não vivi, lembranças nítidas do que não existe, planos com quem nem conheço. Parece que não tenho vínculos, chego sempre tarde. Todos os acentos já estão
ocupados, todas as vidas lotadas e a minha perdida em outro mundo, outra época,
em outras vidas. Vejo como se eu estivesse dividida em diversas partes, pessoas
e vidas, mas nunca inteira; nunca completa. Sinto uma angustia terrível por
nunca encontrar o caminho que leva a minha verdade, a mim mesma. Fico imersa
num mar escuro e frio, tão solitário. Tenho muita força, mas ela de nada
adianta. Sem um rumo tanto faz se estou sendo fraca. Mas continuo, sempre
continuo, caio, levanto, procuro, procuro e procuro. Quem sabe um dia meu
quebra-cabeça fique completo, talvez não. Mas sempre há o lado de lá, o outro
plano para me dar esperança de que em algum lugar eu exista, mas por hoje não é
aqui e não é agora.
VL
Nenhum comentário:
Postar um comentário